Folhas da Vida

28 de Outubro.

Esse final de tarde está realmente ensolarado! Enquanto o tédio me domina, vou ajudar minha mãe a achar o documento de seu divórcio do meu pai. Ao achar o papel, leio-o umas três vezes, e uma enxurrada de pensamentos inunda minha mente. Como a vida pode ser tão volúvel, e o destino tão maleável? Como uma simples assinatura de um papel pode mudar o destino de várias vidas? Anos de felicidade, risos, momentos memoráveis, almoços de domingo, idas ao parque, presentes de aniversário, livros de Natal, viagens de férias, tudo fora anulado por um amontoado de celulose prensada, cortada e impressa. Tudo fora cancelado por um papel. Uma simples folha de papel.

Folhas. Isso me faz pensar que muitos rumos na nossa vida dependem disso. Acho que o ser humano precisa de algo para convencer a si mesmo daquela decisão, por isso o uso do papel. Usa o papel pra decidir se será aquele mesmo o nome do filho, para decidir se quer mesmo casar com aquela pessoa, e, do mesmo modo, se quer passar o resto de sua vida longe dela. É estranho e ao mesmo tempo comum que nós dependamos tanto de uma coisa sem vida como uma folha de papel. E, mais estranho que isso, é que mudemos de opinião mesmo depois de assinarmos essa última folha. Porque aí, bom, aí não tem mais volta.


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