Não Há Idade Para o Amor - Giulia Rizzuto Rosa


Essa pode parecer apenas mais uma história de amor proibido. Em partes, realmente é. Mas é minha história: a história de uma garota que se apaixona perdidamente por alguém pelo qual ela nunca poderia se apaixonar. Nem ela por ele, nem ele por ela.
Thainá era uma típica adolescente de 18 anos: ouvia música, saía pra baladas, tirava fotos, estudava. Sua matéria favorita era Filosofia. Seu professor também. Embora namorasse, Thainá tinha uma certa quedinha (pra não dizer um abismo!) por seu professor. Ele era alto, esbelto, inteligente, lia muito e tinha um ótimo gosto musical. Mas além de seu namorado – o qual ela adorava – outras duas coisas se posicionavam em seu caminho: Fábio, seu professor, tinha 32 anos, e ele era seu professor! Nunca que ela poderia se envolver com um professor. Bom, pelo menos era isso o que ela achava.
Todas as aulas, Thainá prestava uma irrepreensível atenção á aula. Sempre suspirando á cada passo que Fábio dava, enquanto explicava a matéria. Até que, um belo dia, seu namorado Henrique disse que iria a Brasília passar uns meses, pois sua mãe estava doente e ficaria lá para tratamento.
-Mas Brasília é muito longe de Curitiba, e eu não tenho dinheiro para pagar o avião! – contestou a garota.
Mas não, ele foi do mesmo jeito, deixando nela um vazio imenso.
Nisso, Thainá e Fábio se aproximaram muito, construíram uma amizade verdadeira. Ela desabafava as coisas que a afligiam e ele a escutava, e vice-versa. Um dia, Fábio convidou Thainá pra ir tomar um Milk Shake com ele. “Por que não ir?” Pensou a garota.
E lá foi Thainá. Riram, conversaram, até que na hora de se despedir, Fábio a beijou. Era um beijo doce, mas ao mesmo tempo com um gostinho proibido de “vamos repetir”. Ao entrar em casa, a menina foi direto para seu quarto, onde ficou com a cabeça girando em meio ao beijo e ao “isso é errado”. E a relação respeitosa professor-aluno? Mas o problema era que ela gostou. Ela adorou, na verdade. Ela queria beijá-lo de novo, mesmo que não o pudesse.
No dia seguinte, segunda feira, sua primeira aula era com ele. “Com que cara vou olhar para ele agora, meu Deus?”. Nervosa, Thainá entrou na sala e se sentou no lugar habitual, a primeira carteira. O professor começou a aula tratando-a normalmente, e disse para a classe que iria produzir um teatro com eles, a peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Ele seria o Romeu.
E, adivinhem só, quem ele escolheu pra Julieta? É claro, ele escolheu Thainá!
E em cada ensaio, o modo com o qual ele a pegava nos braços era tão gracioso e seguro, seu olhar era tão amoroso e transmitia tanta paz que a fez se apaixonar por ele. Uma paixão mesmo, mais forte do a que pelo seu “namorado”. Por que as aspas? Bom, ela deixara de considerar um namoro a partir do momento que ele parou de ligar, de mandar SMS, de dar um “oi” no Facebook. Ele a exclui, aliás. Pra ela, Henrique era passado. Seu presente, confuso. E seu futuro? Bom, ele era inimaginável.
Chegou o grande dia, o dia da apresentação. Thainá estava linda: seus longos e lisos cabelos negros estavam trançados, com ramos de flores em meio ás madeixas. O vestido era alaranjado com detalhes em dourado nas mangas – que iam até os cotovelos – e na gola. Os arabescos prateados na borda do vestido, iluminados á luz do palco, refletiam em seu rosto e faziam-na transparecer um ar angelical.
Fábio estava igualmente lindo: deixara a barba crescer, com um provocante aspecto de “esqueci-de-me-barbear”. Os trajes eram roxos, com as mangas, gola e borda em fita prateada. A calça era num roxo mais escuro, mas que combinada perfeitamente.
A peça correu super bem, e na cena final, todos deram as mãos e agradeceram, sendo aplaudidos em pé. O espetáculo foi perfeito!
Thainá esperava do lado de trás do anfiteatro do colégio, ainda nas roupas da apresentação, contemplando os céus. Sentiu um braço familiarmente forte lhe envolver a cintura e puxá-la pra perto.
“Fomos espetaculares”, sussurrou Fábio, ao ouvido de Thainá.
“Concordo”, disse ela, com o rosto queimando em um misto de vergonha e felicidade.
Fábio a virou pra si e lhe contemplou os olhos com um ardor novo. Ele nunca a olhara daquele jeito. Ali mesmo, ele a beijou. Mas não como o outro beijo, muito pelo contrário. Foi um beijo mais carregado de paixão. Um beijo que a convidava a um amor inescrupuloso, um amor verdadeiro. Ali, á sombra da Lua, com uma linda vista abaixo e os trajes da peça realçando o amor dos dois, Fábio a afasta um poucos centímetros e profere a frase:
“Daria-me a honra de namorar comigo, Julieta?”
“Com toda a certeza, ó Romeu!”
E assim, a vida seguiu seu curso, com duas novas pessoas felizes. A idade não valia de nada. Eles se amavam, e era isso o que importava.

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